As obras de transposição do rio São Francisco, cenário e personagem dos meus dois romances publicados, voltam a ser notícia na mídia nacional.
Não vou repetir aqui o absurdo que representam essas obras em termos de desperdício de recursos públicos.
Vou destacar apenas algo que acabei de ler na Folha de SP: muitas propriedades foram divididas pelos canais em construção. Isso significa que os proprietários (pequenos, na maioria) já enfrentam a kafkiana situação de não terem acesso ao "outro lado" de suas propriedades. Alguns fizeram aterros (pois não há passarelas ou pontes sobre os canais) que serão retirados quando a água correr. Talvez nunca sejam retirados. Os que ainda respeitam os canais (construídos ou em construção) ficam a ver navios, ou melhor, a ver de longe a terra que é sua mas que não pode explorar ou sequer pisar.
Confesso que nisso não havia pensado. Faltou-me imaginação. Mas há muito sabemos que a realidade tem superado a ficção.
O Velho Chico, por vias transpostas, continua sendo matéria e cenário para mais romances trágicos.
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