VENTURA E DANAÇÃO DE UM SALTA-MUROS NO TEMPO DA DITADURA

BEIRA DE RIO, CORRENTEZA - ventura e danação de um salta-muros no tempo da Ditadura - Nas boas livrarias e em www.mauad.com.br

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

SOBRE O ROMANCE, SOBRE A VIDA


Literatura é vida, escreveu Guimarães Rosa. Se assim é, como não aproveitar ficcionalmente um episódio de tamanha magnitude, quando se esteve mergulhado nele como testemunha e ator coadjuvante em seus atos periféricos, aos 13 anos de idade? Ibotirama tinha 5 mil habitantes e falava-se em mil homens armados circulando pela cidade, de dia e de noite. Cortavam a luz às 22h, ninguém podia circular nas ruas até o amanhecer, tudo era suspense, ameaça constante, medo e desconfiança. Sabe-se hoje que foram cerca de 300 homens envolvidos na Operação Pajussara, distribuídos por quatro municípios. Mas que importância tem esse número para a obra ficcional? Nenhuma, obviamente. Importa o que impressionou aquele garoto que fui, aquilo que foi desbastado ou acrescido na memória pelo correr do tempo e pela imaginação. Tudo que se tornou denso, potente e emocionante, ou seja, tudo que se tornou em mim matéria de ficção.


Antes dos homens armados chegarem a Ibotirama, a Bom Jardim do romance, à caça dos subversivos, o asfalto também havia chegado à cidade. E esse foi outro momento de impacto sócio-econômico expressivo. Conectou o lugar ao mundo por via terrestre, ligação bem mais facilitada que por via fluvial. Marcou o início do fim do ciclo dos vapores e deu início ao dos caminhões; das mortes por afogamento pelas mortes por atropelamento; das fugas a cavalo ou canoa pelas fugas em ônibus; do marasmo beiradeiro pelas buzinas e roncos de motores. Alguma coisa boa, muito de coisa ruim; uma aceleração das horas, como bem repara Gero logo no início do romance. Reparem, uma ideia foi se prendendo a outra, abrindo um leque de opções narrativas suficientes para uma trilogia ou tetralogia, sei lá eu, a partir do tempo histórico do meu lugar e suas mutações.



Pequeno trecho de palestra proferida na UFRB, ano passado, para os alunos de literatura da escritora e poeta Ângela Vilma.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

FÉLIX E RIO


Mateus Solano na pele de Félix está impagável.
Ontem à noite, ao passar pela sala (rs...), assisti a cena em que o Félix compara o rosto de Amarylis com a transposição do rio São Francisco.
Putz, aquilo soltou uma gargalhada em mim que perdi tudo o que veio depois. Porra, um rosto de mulher que parece a transposição do rio São Francisco!!! Fico aqui na torcida para que essa fala tenha sido um caco do Solano. Magnífico.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

CENÁRIO DIVIDIDO


As obras de transposição do rio São Francisco, cenário e personagem dos meus dois romances publicados, voltam a ser notícia na mídia nacional.

Não vou repetir aqui o absurdo que representam essas obras em termos de desperdício de recursos públicos.

Vou destacar apenas algo que acabei de ler na Folha de SP: muitas propriedades foram divididas pelos canais em construção. Isso significa que os proprietários (pequenos, na maioria) já enfrentam a kafkiana situação de não terem acesso ao "outro lado" de suas propriedades. Alguns fizeram aterros (pois não há passarelas ou pontes sobre os canais) que serão retirados quando a água correr. Talvez nunca sejam retirados. Os que ainda respeitam os canais (construídos ou em construção) ficam a ver navios, ou melhor, a ver de longe a terra que é sua mas que não pode explorar ou sequer pisar.

Confesso que nisso não havia pensado. Faltou-me imaginação. Mas há muito sabemos que a realidade tem superado a ficção.

O Velho Chico, por vias transpostas, continua sendo matéria e cenário para mais romances trágicos.

sábado, 10 de março de 2012

UM RIO SEM MAIS PALAVRAS


Editoria de Arte/Folhapress


Aqueles que se posicionaram contra as obras de transposição do Rio São Francisco, entre os quais me aliei e me alio, passaram como pessimistas e outros pejorativos que dispenso-me de escrever aqui.

Mas somente os interessados nas obras - resisti à tentação de colocar aspas em interessados - não admitiam, embora soubessem mais que todos, os rumos enviesados e soterrados da obra. Bem, talvez fossem isso mesmo que queriam.


Fonte: Folha On Line, 10.03.12

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PRÊMIO HERA DE PUBLICAÇÃO PARA "BEIRA DE RIO, CORRENTEZA"

Beira de rio, correnteza foi o vencedor do primeiro Prêmio Hera de Publicação na categoria "obras de autores baianos publicadas em 2010". O prêmio é uma criação da Fundação Pedro Calmon e premiou também as melhores dissertações e livro de humor.

O resultado foi publicado no Diário Oficial da Bahia, edição de ontem, 08 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Contos de sexta-feira, de Carlos Ribeiro, ficou em segundo lugar, o que conferiu uma baita grandeza à conquista do meu romance, pois o livro do xará é excelente.

Estou contente, quase feliz. Espero que o Prêmio Hera (título em homenagem a revista literária do mesmo nome) leve mais alguns leitores ao romance. Que é, na verdade, o que mais quer um escritor: leitores do seu trabalho.

Agradeço os telefonemas, os torpedos, os e-mails me parabenizando. Devolvo os parabéns a esses amigos que leram meu livrinho. Abraços e até o próximo... livro, é claro.

sábado, 28 de maio de 2011

DOCE QUE NEM RAPADURA

"Acabo de ler A Dama do Velho Chico. Estou maravilhado. Belíssima trama. Lindas e fortes metáforas. Relato forte, de linguagem precisa, quase espelhando a aridez da terra de Bom jardim e vizinhanças, a exuberância do Velho Chico e as asperezas e nobrezas da vida e da alma daquelas gentes. Confesso que li o livro sem pressa, temendo o fim da história. Bebi cada página como quem saboreia a água doce do melhor pedaço do Velho Chico. Sua narrativa é um primor. A história é linda, forte, dura, mas doce, que nem rapadura."


Gredson dos Santos
Prof. da UFRB-Amargosa

domingo, 12 de dezembro de 2010

TEMPO É CORRENTEZA, RIO É VIDA

"Na verdade, Carlos Barbosa faz o mundo de Gero ser montado em nossa frente. O livro nos move, realmente, para um espaço de uma beira de rio e sua correnteza. O autor traz um livro inundado de vidas aventurescas, de um amor virginal. Traz também a rudeza de anos que mancharam a história do Brasil com sangue e chumbo.
Em termos de literatura, o romance tem uma visão contemporânea do São Francisco. Diferentemente daquela visão do homem sofredor que vive da pesca sazonal. É um livro que traz a linguagem local, das comunidades ribeirinhas, mas que não faz disso um estereótipo e sim uma memória.
Atualmente, Carlos Barbosa é um dos poucos autores baianos que trabalham com uma linha menos urbana. Mesmo tratando do cotidiano de uma cidade, o vapor poluído e pesado da urbanização não chega a afetar o frescor natural sãofranciscano. Beira de rio, correnteza se faz importante também por constituir-se como um agregador para a literatura sobre o interior da Bahia. Geografia tão mágica e intensa quanto a urbanóide, tão vista e explorada na contemporaneidade baiana.
Esse livro flerta com o amor, a politica e a história. E poderia ser reconhecido como qualquer uma dessas linhas literárias. Beira de rio, correnteza é poesia em prosa, é regionalista universalmente brasileiro."

Trecho da resenha escrita pelo estudante de jornalismo Thiago Santos Sant'Ana, lida no dia 06, segunda-feira passada, no seminário "Territórios da ficção: memória e política", da disciplina optativa de Literatura Brasileira, ministrada pelo professor e escritor Carlos Ribeiro, no curso de Comunicação Social da UFRB.